Dor no joelho pode estar relacionada à patologia no quadril
A dor no joelho pode não ter origem em uma alteração que o acometa propriamente. Algumas de suas causas comuns podem ser atividades físicas intensas, falta de uso, sentar-se em uma área limitada ou ficar de joelhos por longos períodos. A articulação também pode doer devido a processos inflamatórios, incluindo doenças autoimunes, como artrite reumatoide, espondiloartrite e lúpus. Mas você sabia que a dor no joelho e patologias no quadril podem estar relacionadas? Sendo assim, que tal pensar de uma forma mais ampla a reabilitação desses pacientes?
O joelho é uma articulação de grande amplitude, situada na porção central do membro inferior, e que recebe cargas vindas tanto do quadril, quanto do tornozelo. É formado pelo conjunto fêmur-patela-tíbia e realiza, em diferentes planos, os movimentos de extensão, flexão, e rotação axial, sendo que esse último acontece somente quando o joelho se encontra dobrado num ângulo de 90 graus.
Meniscos, ligamentos, músculos e tendões são responsáveis por proteger e estabilizar a articulação do joelho dos constantes impactos e por isso, podem sofrer vários tipos de avarias. Além disso, iremos encontrar duas articulações: a femorotibial e a femoropatelar ou patelofemoral e é justamente nessa última que veremos uma das lesões que mais acometem esse conjunto; a chamada Síndrome Patelofemoral. Também chamada de dor anterior no joelho, joelho de corredor, condromalácia patelar, entre outros nomes, é comum haver limitação de movimentos funcionais como agachar, interferindo assim na qualidade de vida do paciente. Caso a sobrecarga exercida no joelho não seja aliviada através de alongamentos ou exercícios posturais corretivos, essa lesão poderá facilmente evoluir para outras patologias, como a artrose, por sua característica degenerativa. Nesse caso, a limitação pode tornar-se ainda mais grave e de difícil tratamento.
Por ser uma lesão multifatorial, o tratamento dessa patologia vai exigir uma análise minuciosa do histórico de saúde e avaliação dos hábitos diários do paciente, para direcionar a conduta do tratamento. Por exemplo, um aumento grande no volume ou intensidade de exercícios físicos, poderá desencadear a Síndrome Patelofemoral, assim como o desequilíbrio entre a musculatura de extensão e flexão do joelho, patela alta, rigidez do trato iliotibial e o fato de ser do sexo feminino (quadris largos), podem ser considerados fatores predisponentes para a dor anterior no joelho. Muitos desses fatores serão facilmente observados se for feita uma análise da postura e do movimento do paciente. Sendo assim, é imprescindível ter conhecimento de anatomia e biomecânica, uma vez que facilitará na escolha do tratamento mais adequado, já que de nada adiantará trabalhar a flexibilidade dos músculos do quadril, se o foco do problema for uma limitação no tornozelo.
Tratamento
O melhor tratamento para a síndrome patelofemoral é o conservador, ou seja, analgesia (gelo), alongamento, exercícios de reabilitação e fisioterapia, serão sempre a melhor forma de devolver ao paciente a qualidade de vida e restabelecer o seu padrão de movimento. Durante muito tempo, a principal linha de tratamento utilizado com os pacientes era o fortalecimento do músculo vasto medial, já que ele é um dos estabilizadores dinâmicos da patela. Esse tratamento era usado com o intuito de tracionar a patela no plano horizontal, uma vez que frequentemente ela é vista lateralizada em casos de dor patelofemoral. Com o avanço dos estudos chegou-se à conclusão de que o trabalho de fortalecimento dos músculos que envolvem o quadril e o tornozelo, quando associado ao fortalecimento do quadríceps, pode gerar um tratamento com mais sucesso do que quando se fazia um trabalho isolado.
Mas você já imaginou que o local da dor nem sempre será o foco do tratamento? Como já foi dito anteriormente, muitos são os fatores que podem levar a um desgaste na cartilagem da patela e uma delas é a limitação na amplitude de movimento no quadril ou tornozelo, que certamente irá influenciar na movimentação do joelho e acarretar uma sobrecarga nessa articulação, evoluindo para uma lesão. Por isso às vezes presenciamos casos de pessoas com dor no joelho e patologias no quadril, onde uma dor provoca a outra. Precisamos achar o ponto que está causando a dor. Isso acontece porque nos movimentos de cadeia cinética fechada, onde movimentos em que a perna e o corpo se movem em relação ao pé, quando este está fixo no solo – como agachar, saltar, correr – necessariamente há interação das articulações adjacentes. Sendo assim, ter um olhar ampliado sobre o joelho, os movimentos do corpo e as interações articulares, pode ajudar a resolver a dor do paciente de maneira mais eficaz.
Mas o que fazer no quadril e tornozelo para tratar o joelho?
O quadril possui músculos que estabilizam o movimento de flexão do joelho ao agachar, por exemplo. São eles: o glúteo médio e o glúteo mínimo. Fortalecendo esses músculos obteremos mais estabilidade ao seu movimento e, por fazerem parte do grupo responsável por abduzir o quadril, caso estejam sem força o suficiente, irão favorecer o valgo do joelho (pernas em X), por isso relacionamos a dor no joelho e patologias no quadril entre si. Ainda favorecendo o desvio do joelho da sua trajetória normal, podemos citar o encurtamento dos adutores do quadril. Esse é um dos mecanismos que irá contribuir para o deslocamento medial do joelho, ou seja, um enfraquecimento nos abdutores de quadril pode gerar um encurtamento no movimento do joelho no plano frontal, e mais uma vez um aumento na sobrecarga da articulação patelofemoral.
Se a amplitude de movimentos do quadril estiver comprometida pelo encurtamento de algum conjunto de músculos, isso irá alterar a cinemática dos membros inferiores podendo aumentar a tensão na patela. Como exemplo disso podemos citar a retroversão pélvica, que irá acontecer por um encurtamento dos isquiotibiais, e a anteversão pélvica que irá acontecer por conta do encurtamento do quadríceps e flexores do quadril. Por isso, exercícios de mobilidade no quadril irão ajudar a aumentar a flexibilidade dos músculos que se originam ou se inserem na referida articulação, como: isquiotibiais, psoas e adutores de quadril.
Tornozelo
O tornozelo é formado por 3 ossos: tíbia, fíbula e tálus.
A limitação no movimento de dorsiflexão plantar (flexão do pé para cima) irá gerar uma diminuição no ângulo de flexão do joelho, em exercícios de cadeia cinética fechada, e assim aumentar o pico de tensão na articulação. Sendo assim, mais uma vez o joelho seria sobrecarregado por conta de uma limitação em uma articulação distal ou proximal. Outro fator que irá favorecer uma carga excessiva na articulação patelofemoral é o abaixamento do arco medial longitudinal (arco plantar), que é a principal estrutura de sustentação de peso e absorção de choque no pé.
Conclusão
Na prática diária vamos nos deparar corriqueiramente com as mesmas lesões, mas é muito importante ter um olhar diferente sobre cada pessoa.
O caso de uma dor no joelho e patologias no quadril exemplifica a necessidade de atenção ao diagnóstico. Mesmo que a lesão possua um mecanismo muito conhecido e bem estabelecido, saber a história pregressa do seu paciente lhe trará uma segurança maior para desenvolver um protocolo adequado de atividades. Portanto, a relação entre a dor no joelho e patologias no quadril acontece por meio da ligação entre estas articulações, onde uma pode provocar uma reação na outra.
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